29 anos do SINTER-MG – Gilberto Malafaia relembra a greve de 1988. A maior lição:solidariedade

Gilberto Malafaia de Oliveira, coordenador técnico regional na Uregi Juiz de Fora conta sobre a Greve Geral realizada em 1988, uma mobilização importante para a fundação do SINTER-MG e ressalta a importância da união e solidariedade entre os trabalhadores.

No ano de 1988, após diversas tentativas infrutíferas da Assemater – Associação dos Servidores da Emater (precursora do Sinter) para melhoria da situação salarial, foi decretada a Greve Geral dos trabalhadores da Emater. A greve durou dois meses e meio e naquela época, com inflação maior de 50%/mês, o salário do nível superior era em torno de 2 salários mínimos. Muitos colegas estavam com sérias dificuldades financeiras.

Em cada região foi eleito um Comando de Greve, onde a função principal era manter a união dos empregados, contato com políticos e autoridades municipais e estaduais e criar um fundo de greve com a finalidade de ajudar aos colegas mais necessitados e também para poder cobrir os gastos necessários. O Comando de Greve era o responsável em contatar colegas de Eslocs que não aderiram à greve motivando-os a participar também do movimento. Se ficávamos sabendo que um Esloc, de qualquer parte do estado, não havia aderido à greve, nos mobilizávamos e íamos atrás, ligando para os colegas.

É interessante lembrar que as ligações telefônicas eram de fixo para fixo, já que ainda não existiam os celulares e muito menos e-mails, Whatsapp…

O Comando de Greve do regional de Juiz de Fora, indicado pelos empregados, era composto por 3 colegas: Maria Elizabete Nascimento (falecida), Severino Rodrigues Costa (aposentado) e eu. No início da greve nos reunimos com o Supervisor Regional e falamos da decisão do Escritório Regional ser a sede do Comando de Greve. Diariamente, no final da tarde, reuníamos ali com os colegas para a discussão das notícias do dia, continuidade do movimento e conferência da arrecadação conseguida.

A arrecadação financeira era obtida através de confecção e venda de artesanato, doces, etc. Realizamos em Juiz de Fora uma festa junina, na quadra de uma escola de samba que gentilmente cedeu o espaço, com a finalidade também de arrecadar dinheiro. Com barraquinhas de jogos, brincadeiras e comes e bebes. Toda a parte de alimentação, salgados e doces (cachorro quente, churrasquinho de queijo e de carne, canjica, salgados em geral) foram preparados pelos colegas. Quentão também teve muito. A união foi grande!!!

Passo a dar um depoimento pessoal: na época da greve, Xuxa estava no auge da fama e os lacinhos de cabelo para as meninas estavam na moda. Minha esposa, grávida na época, e eu fazíamos os lacinhos em casa e íamos para a porta de saída dos colégios vender para as mães.  Ajudamos muito o fundo de greve com isso.

Lembro também agora da passeata realizada em Belo Horizonte com técnicos de todo o estado. Interessante lembrar que a passeata era com todos em filas (rsrsrs). Não lembro as ruas em que a caminhada foi feita, mas lembro que a música mais cantada foi “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores” de Geraldo Vandré.

Outra lembrança que chega agora é que o Comando de Greve aqui de Juiz de Fora foi procurado por representantes da CUT (a CUT era nova na época) oferecendo apoio e sugestão para aliarmos a ela, mas isso não foi aprovado pelos colegas. Não queríamos interferência externa de nenhuma organização. Queríamos nós mesmos levar o movimento em frente. Não sei se essa tentativa de aproximação da CUT também aconteceu em outra região.

Entramos também com processo na justiça, com adesão de mais de 2000 colegas de todo o estado. Posteriormente foi feito um acordo trabalhista, com os trabalhadores que aceitaram o acordo recebendo 50% dos valores a que tinham direito.

Isso aconteceu em 1988, sem celular, sem e-mail, sem Whatsapp com participação de trabalhadores de todo o Estado.

Trabalhadores da extensão rural reunidos na ALMG

Trabalhadores em greve mobilizados na ALMG – 1988