Segundo dia de trabalhos para criação do Plano Nacional de Formação Sindical dos extensionistas conta com a contribuição de lideranças de movimentos sociais

Dando continuidade aos trabalhos da Oficina de criação do Plano Nacional de Formação dos (as) trabalhadores (as) de ATER, dirigentes de entidades representativas de várias regiões do País, filiadas à FASER, participaram nesta terça-feira de uma mesa de debates com lideranças de movimentos sociais. O tema debatido foi transformações no mundo do trabalho e no campo brasileiro e seus impactos nas políticas agrícola e agrária e setor público de ATER e da Pesquisa Pública.

Em análise sobre o papel do extensionista do setor público, Wagner Vieira Martins,  do Movimento dos Sem Terra (MST – MG) alerta que devido à falta de interesse político e diminuição do corpo técnico, não prioriza a produção agroecológica: “A demanda por assistência técnica dos assentados, quando direcionada às empresas públicas de ATER, se depara muitas vezes com um corpo técnico preparado para o mercado, com indicações de compostos químicos, o que vai na contramão do desejo dos agricultores assentados, que buscam uma produção com base agroecológica. Nosso anseio é pela valorização da ATER pública mais voltada para uma capacitação que priorize a qualidade dos alimentos produzidos e o bem estar dos agricultores e sociedade em geral.”

Adilson Pereira, coordenador da Escola 7, local onde está sendo realizada a oficina, avalia o papel do espaço na formação dos trabalhadores:  “A Escola Sindical 7 de Outubro possui um papel fundamental enquanto braço do processo de formação nacional da CUT, nosso papel é formar e preparar os trabalhadores para a luta contra esse processo nefasto que avança contra a classe trabalhadora e a sociedade, com crescimento cada vez maior da retirada de direitos na conjuntura pós golpe de 2016.”

Padre Claré, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) reforçou a necessidade de conscientização dos trabalhadores e sociedade, do contexto em que estão inseridos: “Se queremos um processo formativo eficiente, precisamos mexer com a cabeça das pessoas. Não basta só o sentimento, é preciso trabalhar a conscientização das pessoas sobre o período de ruptura democrática e de direitos que vivemos, a partir de pessoas que já sofrem o impacto na pele. É preciso pensar no porquê e para que é necessária a formação, ou seja, qual o projeto de trabalhadores e de sociedade que se busca com tal formação.”

O secretário de formação da CUT-MG, Gilmar de Souza Pinto, lembra os dirigentes sobre a importância da vivência no processo de formação sindical: “Vivenciamos uma contradição neste momento em que a necessidade de formação se faz tão necessária, mas esbarra nas dificuldades financeiras. Apesar dos desafios, temos que perseverar e entender que o conhecimento, a partir da vivência, é fundamental no processo de formação. O trabalhador precisa reconhecer a importância do seu trabalho. O processo formativo deve auxiliar nesta conscientização e lhe empoderar a analisar com capacidade crítica todo o processo em que está inserido, de forma que ele consiga compreender como e onde são tomadas as decisões que impactam diretamente no seu trabalho.”

Samir Seródio, presidente da Associação dos Servidores do Incaper (Assin) fez uma contextualização histórica sobre a política de extensão rural no País, ressaltando a criação do MDA, ocasião em que há o fortalecimento de uma política nacional de ATER, projetada pelo decreto 4739/2003, de extrema importância para iniciativas como a agroecologia, metodologia participativa e construção coletiva com diversos movimentos sociais, trazendo avanços, principalmente,  na relação entre extensionistas e movimentos sociais. Após a promulgação da Lei 12.188 de 2010, que instituiu a nova política nacional de Ater, um dos princípios retirados é a agroecologia, o que motiva uma série de críticas à relação como se executa as chamadas públicas, dificultando a relação entre a Anater e os projetos que ela propõe para as empresas públicas, gerando um afastamento e dificultando acesso de parceiros, movimentos sociais e das próprias empresas de extensão aos recursos públicos. Na visão do dirigente, é de suma importância uma discussão conjunta e inclusiva da ATER: “ O papel da Faser, neste momento, é ouvir os trabalhadores da extensão e pesquisa, os representantes da agricultura familiar, juntamente com movimentos sociais e criar um plano que alinhe as necessidades dos agricultores e trabalhadores, com foco na qualidade de vida e na agroecologia.”

As discussões terão prosseguimento nos dias 20 e 21/6, oportunidade em que os dirigentes darão andamento à construção do Plano Nacional de Formação.